Taj Mahal, Pirâmides, Canais, Túneis, Viagens Lunares, Navios-Cidades… o humano organizado, pensante, sonhador tende inevitavelmente ao monumental. Assim o foi e o é com algumas culturas, algumas civilizações. Fruto de sonhos, loucuras, extravagâncias, é nesse querer-ser em que se encara riscos e não se poupa energia que se conseguiu plantar e cultivar pela terra e nas consciências obras de excessos que fizeram o humano animal maior entre os animais. E, juntamente a esse agir, a necessária precisão, perfeição, o correto como terreno para validar as aspirações, quer no cientista, no general, no acrobata. Assim se dá na respiração, no pensamento, no movimento, no gesto tanto do atleta-bailarino como do sábio em sua busca transcendental.

Nas artes nunca foi diferente. Desde Virgílio prometendo uma obra maior que a Odisseia, passando pelo esforço filosófico-artesanal de Goethe no seu Fausto, até a obsessão de Pessoa para suplantar seu patrício Camões, o que se constata é o humano sequioso pelo monumental, pela perfeição, pelo maior que si. Lastimavelmente a isso não se atarefam, não se destinam (amor fati) os animais-estômagos, aqueles que correm atrás de cada refeição da hora empurrados pela fome ou os tristes que contam moedas. Lastimavelmente.

Há uma ideia, uma constatação recorrente em Nietzsche de que o homem de exceção não busca a conservação, que o instinto de auto-conservação é próprio do homem de rebanho, o escravo que capitula, que teme pelo seu micro-universo. Aqui um paradoxo. Ao se expor àquilo que há de mais perigoso e estranho na vida, o homem de exceção faz perpetuar o próprio humano naquilo que há de mais valoroso.

(…) Só falo de exemplos concretos, históricos (se é que exista isso de concretude em história!). Penso naqueles que planejaram, organizaram (praticaram) ações pessoais desmedidas: um Pound querendo ser um leitor campeão, Eugenio Barba criando ilhas, países, nações teatrais flutuantes.

Existem aqueles que não se contentam em surtir sua dispensa, sua geladeira, sua conta bancária e esperar o dia do descanso plácido, diriam uns: acomodar-se. Mas, ao contrário de artistas que não sabem nem conseguem planificar seu terreno para bem pisar, Aroldo é dono de um inteligência “prática” e criou suas próprias condições materiais de efetivar suas criações. Assim, sem solicitar a simpatia de empresários interesseiros nem das demandas de um Estado desinteressado, Aroldo vai sistematicamente, metodicamente publicando sua obra com recursos próprios.

Seguindo a “tradição” dos artistas que produzem muito, Aroldo é um turbilhão criativo e criador, ao contrário do senso comum (comum!) daqueles que justificam a produção mínima com a desculpa de bem lapidar o que pouco se produz. A quantidade traz qualidade: esse é o mantra dos super produtivos. Sim, sabemos: Monalisa se arrastou por quase quatro anos para revelar seu velado sorriso ao mundo. Mas que não nos equivoquemos: Leonardo era um artista do excesso, e não foi por preguiça ou acomodação tanta demora.

Sem atentar para receitas mercadológicas do como fazer, Aroldo vai fazendo, apenas atendendo aos sussurros de uma voz atemporal que diz: faça, faça, faça! Por isso Aroldo lança suas tantas garrafas-livros ao mar. Que a moenda do tempo triture com suas poderosas mandíbulas essa volumosa produção literária. No que dará isso tudo? Não questione, diz Crisna para Arjuna. Apenas faça. Seria nesse ponto em que a loucura torna-se sabedoria?

                                                                                Sebastião Simão Filho

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